Após ter conquistado o topo no xadrez eis que a inteligência artificial (IA) volta para mais uma partida contra a humanidade, desta vez num jogo de poker. Dito isto, decorre por estes dias no Rivers Casino de Pittsburgh o Brains Vs AI poker tournament, um torneio no limit em que, tal como o nome indica, o Homem enfrenta a máquina para determinar quem leva a melhor. A lutar pela humanidade estão alguns dos melhores jogadores de Texas Hold’em do mundo enquanto o representante do lado da máquina é o Libratus, um software de inteligência artificial criado por dois ex-jogadores que promete dar que falar nos próximos tempos e que inclusive já está a ser estudada para implantações fora do ramo do jogo. Mas para o que nos interessa, o torneio vai já a meio e, surpreendentemente, o Libratus leva mesmo uma vantagem.
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O torneio
Este não é um torneio normal em que temos um determinado número de jogadores em competição à mesma altura visto que, tal como defendido pela equipa que criou o Libratus, os humanos se uniriam contra a máquina e, por muito sofisticada que esta fosse, iria sempre perder. Em vez disso, o torneio é jogado em heads-up, o frente-a-frente final entre dois jogadores se quisermos. No final do segundo dia de competição a máquina levava vantagem sobre três jogadores e estava atrás de apenas um. O verdadeiro objectivo da competição não é descobrir quem vence nesta batalha apocalíptica até à última ficha virtual – se bem que naturalmente essa curiosidade está bem viva – mas se a IA é capaz de jogar frente a frente com um humano, numa variante tão dura como o no limit, onde o número de possibilidades e desfechos imprevisíveis é consideravelmente maior.
A máquina
Se do lado dos humanos não é preciso dizermos nada, no canto contrário está algo que precisa de ser dissecado até ao mais ínfimo pormenor. Posto isto, embora os criadores do Libratus não tenham explicado detalhadamente como a máquina funciona, sabe-se que não lhe foi atribuída qualquer estratégia específica e que esta “aprendeu por si”. Ou seja, ao usar uma combinação de simplificações estratégicas e a habilidade de aprendizagem da máquina para fazer a melhor jogada na melhor altura, após jogar 44.000 mãos contra 33 profissionais do sector, o software começou finalmente a conseguir sair por cima.
Posto isto, e segundo as palavras do jogador profissional Jason Les, “é inevitável que algum dia a IA vença” e, embora isso não represente o fim do poker como o conhecemos, será um grande passo para a inteligência artificial. Será interessante notar se, uma vez implementado o sistema do Libratus ou outro semelhante, não acabaremos a jogar poker online contra bots que pensamos ser pessoas reais, capazes de ler o nosso bluff e amealhando dinheiro fictício – ou não – para as suas carteiras virtuais. Por enquanto, o mundo do poker ainda é nosso.
Actualização 01/02/2017
A competição terminou no passado dia 30 de Janeiro e, para surpresa de muitos, o Libratus venceu por uma margem avassaladora, quase humilhando os humanos. Tal como tínhamos referido apenas um jogador estava a conseguir fazer frente e até superar a máquina, mas também este acabou por ser derrotado. Posto isto, ao longo da competição foram jogadas 120 000 mãos entre os profissionais de poker e a máquina e, no final, o Libratus acabou mesmo a ganhar $1,766,250. Esta vitória levou os seus criadores a afirmar que este foi um passo enorme para a IA, uma vez que foi a primeira vez que esta foi capaz de ultrapassar os humanos em Heads-Up Texas Hold'em no limit, o que mostra que um simples raciocínio estratégico, mesmo baseado em informação imperfeita, tem o potencial de levar a melhor sobre o comportamento humano.