Covid-19 ameaça sobrevivência dos sites de apostas em Portugal
A pandemia do vírus Covid-19 que está a assolar o mundo tem mudado os hábitos de vida da grande maioria da população, nomeadamente na forma como comunicamos e nos relacionamos com os outros. Desde que surgiu na China em dezembro de 2019, o coronavírus já obrigou à suspensão de vários eventos culturais e desportivos em todo o mundo, desde as principais ligas e competições europeias de futebol – incluindo o EURO 2020 e a Copa América – e os Jogos Olímpicos de Tóquio. Como tal, por força das circunstâncias, os portais de apostas foram fortemente afetados e viram a sua oferta reduzida a quase nada. Os que vigoram legalmente em Portugal não são exceção, com alguns a reportarem um impacto superior a 90%.
Contactados pela EXAME, os responsáveis de sites como a Betclic e a Nossa Aposta dizem que o impacto já se fez sentir durante o mês de março, sendo que se preveem mais agravamentos até ao final do estado de emergência. No caso do operador que recebeu a primeira licença de jogo do mercado regulado, a queda do volume de apostas desportivas foi de 70 a 75% no mês passado e, de acordo com o porta-voz da empresa, durante o presente mês de abril há uma forte possibilidade desse número subir para 90 a 100%. Já o portal do grupo Cofina não revelou números, mas também admitiu que a suspensão da maioria do desporto afetou “bastaste” o volume de apostas. A empresa tinha também delineada toda uma estratégia promocional em torno do EURO 2020, que será remodelada para o próximo ano.
É conhecido que existem ligas de menor expressão que continuam em atividade, como a da Bielorrússia e Nicarágua. Segundo a mesma fonte da Betclic (numa outra entrevista ao Diário de Notícias), estas passaram até a ser mais procuradas pelos apostadores, mas ainda assim o volume de apostas movimentado representa apenas “um décimo dos valores pré-pandemia”. O mesmo discurso teve o representante da bet.pt ao DN, revelando que o volume de apostas nesses campeonatos é “residual” quando comparados com as maiores competições.
Sem apostas, os operadores viram-se para as suas secções de casino online e que contam com ofertas que incluem slot machines, póquer, roletas, blackjack e, no caso do ESC Online, até banca francesa. Estas secções funcionam em pleno e até contam com os seus próprios bónus e promoções, que incluem recompensas de registo e torneios. Contudo, segundo a Betclic a procura por este tipo de atividade não aumentou durante a pandemia: “não sentimos a transferência dos apostadores para o casino, nem um aumento significativo do número de utilizadores de casino”, disse a fonte da empresa ao DN.
Os representantes dos operadores contactados pelos dois órgãos de comunicação lamentam ainda a falta de apostas reguladas em eSports, o que, referem, poderia “mitigar parcialmente a perda de receitas nas apostas desportivas”. Além disso, como indica a bet.pt, a regularização deste setor “seria uma forma de combater o jogo ilegal”.
Sem esta opção e com o volume de receitas a cair drasticamente em relação às apostas desportivas surge outra má noticia para os operadores, que é a da limitação ao acesso ao jogo online durante o estado de emergência. Face a este cenário as empresas admitem tomar medidas, o que para a Betclic “não inclui o custo com o pessoal”. Também a Nossa Aposta recusa o cenário de despedimentos e afirma que não vai recorrer ao regime de lay-off.
O estado de emergência em Portugal foi renovado até ao dia 2 de maio. À data de escrita deste artigo os números da Direção Geral de Saúde mostravam mais de 19.000 casos infetados, 657 óbitos e 519 recuperados.